terça-feira, 10 de junho de 2008

O espelho. O nevoeiro.



Vejo os contornos do meu reflexo na superfície enevoada do espelho. À minha volta estende-se um nevoeiro de emoções insensíveis que em nada afectam o meu estado de espírito. Olho para a tela pronta a ser usada, pronta a ser palco do que me vier à alma no momento, pronta a ser riscada pelos traços do meu ser. Nela, imagino uma imensa paisagem , montanhas e rios, vilas e aldeias,... Vejo uma imensidão de árvores verdes, vejo uma infinidade de possibilidades. E por detrás de tudo isso, ao mesmo tempo, vejo-me a mim, o meu reflexo enevoado, aquela que todos conhecem, mas que nenhum sabe interpretar.
Então, numa fúria crescente, começo o desenho, a frase, o comentário ou apenas a meia dúzia de riscos que destroem a minha silhueta, revelando ao mesmo tempo um pouco mais de mim.
Mas no fim arrependo-me. Para que mostro o meu reflexo, se nem a minha sombra querem ver? Então apago tudo. Passo as mãos pelo espelho, e apenas me tenho a mim, o meu reflexo, olhando para mim e perguntando porque desfiz os sonhos, se será realmente apenas porque eram inatingíveis, ou se algo mais...



Agradecimentos especiais ao meu amigo PONTO por me ter sugerido o tema zD

1 comentário:

Joana disse...

Podemos, então, concluir que a minha afilhada tem uma ligeira tendência para a pintura abstracta (não ligues, a madrinha não está boa da cabeça) xP

Acredito que todos nós temos a nossa própria tela. E nenhuma delas apresenta uma figura perfeita. Cada dor, cada lágrima, cada dúvida, cada palavra dita no momento errado é um risco longo e cinzento que corta a harmonia dos nossos traços que com tanto esforço procuramos tornar perfeitos.

Mas a boa notícia é que podemos sempre passar um novo traço colorido por cima e começar de novo ^.^

E se o espelho continuar a distorcer a imagem da minha doce criança, a madrinha zanga-se e compra-te um novo. Porque, se ele não te quer ver bonita e feliz, eu quero =)

Muitas saudades, meu anjo!

Beijinho.