sexta-feira, 4 de abril de 2008

A melodia silenciosa



A sala vazia dava-me arrepios...


E, subitamente, notas soltas pareciam desprender-se do grandioso piano preto tocado por ninguém. O tempo passou e elas continuaram a soltar-se, cada vez mais intensas, cada vez mais, cada vez compondo uma melodia mais bonita...e mais triste. Choravam lágrimas cristalinas, convidando-me a fazer parte daquela melodia silenciosa, daquele choro que mais ninguém ouvia.

E eu estava sozinha na enorme sala vazia, onde tudo era desprovido de emoções excepto aquela melodia triste, com a qual eu me identificava. E descrevia exactamente os meus sentimentos, aquela triste melodia. E quando dei por mim já a acompanhava, e já a sabia de cor, a música dos sentimentos.

E depois notei que, afinal, não estava sozinha na sala... Havia lá mais alguém, alguém que também escutava a notas que saíam do piano, cada vez mais fortes e mais tristes, e esse alguém também as sentia como eu, também vivia a melodia como se fosse a sua vida.

Olhei para o vulto e não lhe distingui a cara. Estava encoberta por sombras feitas de mágoas nunca exprimidas, nunca ditas, nunca sentidas da maneira que deviam. E eu olhei-me ao espelho, e vi que também eu estava coberta por aquela nuvem triste.

E subitamente apercebi-me do porquê de ter reparado em ti: Porque tu eras igual a mim, era por isso. Mas eu não te conhecia, tu não me conhecias a mim. Mas eu sabia que eras tu, quase tão bem como sabia que nunca te iria poder alcançar, que nunca me olharias da mesma maneira que eu sempre olhei para ti, quase tão bem como sabia que, por mais que quisesse, nunca te poderia dizer isto... E ainda melhor sei eu que, se leres isto, não saberás que é para ti...

E uma lágrima caiu no meio da sala... Ecoou por todos os cantos e mandou a música parar... Pois agora era a minha vez de chorar...