domingo, 23 de março de 2008

O túnel da escuridão


Ouço os teus passos descalços ecoar pelo longo corredor de noite que nos envolve, que nos beija a cara com frieza e nos diz que fazemos o proibido.
Ouço os teus passos descalços que me enlouquecem, que me fazem murmurar o teu nome vezes sem conta e sussurrá-lo aos teu ouvidos.
Ouço os teus passos descalços que me fazem imaginar a tua silhueta escondida pelas trevas que nos envolvem com os seus braços esguios e compridos, com as suas mangas de veludo negro que nos acompanham através do tempo, que não nos deixam respirar, que não nos deixam viver... Que se entranham no nosso ser e ficam parte dele.
Ouço os teus passos descalços, mas quando dou conta, já se afastaram novamente, deixando-me outra vez sozinha no sofrimento do silêncio da minha dor.
E depois penso no que poderia ter feito, no que poderia ter dito para parares e e dares-me um pouco de atenção.
Mas chego à conclusão de que as trevas tomaram conta de mim e que me embrenhei demasiado nas sinuosas florestas da escuridão.
Já não posso sair, não há caminho de volta. Apenas há Nada à minha frente.
E eu avanço, avanço para o abismo, mesmo sabendo que vou cair e qua não me poderei voltar a levantar... nunca mais.
Mas, também, de que vale sair da floresta se passas-te por mim e não me viste?